O prestigioso Prêmio Nobel de Economia de 2024 foi concedido a Daron Acemoglu, Simon Johnson e James Robinson por seu trabalho revolucionário sobre o impacto das instituições no desenvolvimento econômico. Embora muitos considerem a premiação tardia, ela reacende um debate crucial sobre a relação entre estruturas sociais e prosperidade econômica.
O Cerne da Pesquisa
Os laureados propõem uma divisão das instituições em duas categorias:
- Inclusivas: Promovem o desenvolvimento econômico através da proteção de direitos de propriedade, democracia e combate à corrupção.
- Extrativas: Concentram poder e limitam liberdades políticas, sufocando o progresso econômico.
Sua tese central argumenta que a implementação de instituições inclusivas tem um efeito positivo de longo prazo na prosperidade econômica, sendo encontradas principalmente em países de alta renda no Ocidente.
Críticas e Controvérsias
O Dilema da Causalidade
O professor Mushtaq Khan, da Universidade de Londres, questiona a premissa de que certas instituições são pré-requisitos para o desenvolvimento econômico. Ele argumenta que a análise dos laureados apenas demonstra uma correlação entre países de alta renda e instituições ocidentais, sem estabelecer uma relação causal clara.
Exemplos Contraditórios
A história oferece diversos exemplos de nações que alcançaram rápido crescimento sem necessariamente possuir instituições inclusivas previamente estabelecidas:
- Singapura
- Coreia do Sul
- Taiwan
- China
Yuen Yuen Ang, em seus estudos premiados sobre o desenvolvimento chinês, destaca como a corrupção estava presente durante o processo de crescimento do país. Ela vai além, afirmando que a teoria dos laureados falha em explicar não apenas o crescimento da China, mas também o do próprio Ocidente.

A Sombra do Colonialismo
Uma crítica particularmente contundente ao trabalho dos laureados é a aparente negligência em relação à brutalidade do colonialismo. Ao comparar o desenvolvimento de longo prazo entre colônias de povoamento (como EUA, Canadá e Austrália) e colônias não-povoadas (partes da África e América Latina), os pesquisadores concluem que as instituições europeias são mais benéficas para o desenvolvimento.
No entanto, essa análise parece ignorar:
- A violência e, em alguns casos, o genocídio de populações nativas que precederam o desenvolvimento dessas instituições.
- Os custos humanos e sociais do processo de colonização.
Reflexões Sobre a Premiação
A declaração de Acemoglu de que questões normativas sobre o colonialismo não eram o foco de sua pesquisa levanta questionamentos sobre a abordagem da economia mainstream a temas sensíveis. Isso reflete uma tendência da disciplina em analisar o mundo sem um viés normativo ou julgamentos de valor, o que tem sido criticado por distanciar a economia de outras ciências sociais.
O Viés do Prêmio Nobel de Economia
Um estudo recente revelou que a concentração institucional e geográfica dos premiados em economia é significativamente maior do que em outros campos acadêmicos. A maioria dos vencedores passou por um seleto grupo de universidades de elite nos EUA, levantando questões sobre a diversidade de perspectivas reconhecidas pelo prêmio.
Esta premiação de 2024 reacende o debate sobre a necessidade de a economia abordar questões mais amplas e desafiadoras, como colonialismo, imperialismo e capitalismo, em vez de se limitar a análises de variáveis isoladas.