O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (9) a imposição de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para os EUA, com vigência a partir de 1º de agosto de 2025. A medida representa um aumento substancial em relação às tarifas anteriormente propostas no plano de tarifas “recíprocas” apresentado por Trump em abril, que previa alíquotas iniciais de 10%.
A nova tarifa foi acompanhada de uma comunicação oficial do presidente americano ao governo brasileiro, na qual Trump citou insatisfação com a relação comercial bilateral, alegando práticas desiguais por parte do Brasil. O comunicado também mencionou preocupações relacionadas a temas políticos e institucionais brasileiros, como decisões judiciais que teriam impacto sobre empresas americanas de tecnologia.
Além disso, Trump anunciou a abertura de uma investigação com base na Seção 301 da Lei de Comércio dos EUA de 1974, instrumento jurídico utilizado para apurar práticas comerciais consideradas desleais por parceiros estrangeiros. A medida é conduzida pelo Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR), e pode levar à adoção de sanções ou tarifas adicionais.
Reação do governo brasileiro
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou uma reunião de emergência com ministros na noite de quarta-feira para discutir a resposta à decisão americana. Posteriormente, o governo brasileiro divulgou nota informando que pretende adotar medidas de reciprocidade, com base na legislação nacional de defesa comercial recentemente aprovada pelo Congresso.
Segundo o comunicado, os Estados Unidos acumularam um superávit comercial de aproximadamente US$ 410 bilhões em relação ao Brasil nos últimos 15 anos. A nota também destacou que eventuais medidas brasileiras buscarão preservar a relação comercial, mas responderão de forma proporcional à ação americana.
O vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, declarou anteriormente que não via motivos para aumento de tarifas, dado o superávit dos EUA na balança bilateral. Alckmin afirmou que medidas desse tipo poderiam prejudicar a própria economia americana.
Impacto na relação comercial
Apesar das alegações de desequilíbrio por parte do ex-presidente Trump, dados do Monitor do Comércio Brasil-EUA, elaborado pela Amcham Brasil, mostram que os Estados Unidos mantêm superávit comercial em relação ao Brasil. De janeiro a maio de 2025, as exportações brasileiras para os EUA somaram US$ 16,7 bilhões (alta de 5% em relação ao mesmo período de 2024), enquanto as importações atingiram US$ 17,7 bilhões (alta de 9,9%), gerando déficit de US$ 1 bilhão para o Brasil.
A pauta exportadora brasileira para os EUA é diversificada e composta majoritariamente por bens industrializados. Segundo a Amcham, 70% das exportações são concentradas em 51 itens industriais, incluindo aeronaves, máquinas, produtos químicos e aço. Em comparação, a pauta de exportação brasileira para a China, principal parceiro comercial do país, é concentrada em commodities.
Apesar da manutenção de alguns fluxos de exportação, produtos como aço e alumínio já vêm registrando quedas relevantes desde a imposição de tarifas setoriais anteriores — de 25% e 73%, respectivamente. Em abril, as exportações brasileiras de aço aos EUA caíram 23,2% em comparação ao mesmo mês de 2024, enquanto o alumínio registrou queda de 73%.
Contexto internacional
A imposição das tarifas ocorre poucos dias após a cúpula do BRICS no Rio de Janeiro, na qual líderes do grupo — atualmente composto por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Etiópia, Irã, Indonésia e Emirados Árabes Unidos — manifestaram críticas a políticas comerciais consideradas distorcivas e a ações militares recentes no Oriente Médio. A declaração oficial do encontro, sob presidência do Brasil, não citou diretamente os EUA, mas evidenciou divergências com a política externa americana.
Durante a mesma semana, Trump anunciou medidas tarifárias contra sete outros países, elevando para 21 o número de nações afetadas por novas ações comerciais. No entanto, a tarifa de 50% sobre o Brasil foi a mais alta anunciada até o momento, chamando atenção de veículos internacionais como o New York Times.
Relação com o ex-presidente Jair Bolsonaro
A carta de Trump ao presidente Lula também incluiu críticas ao tratamento dado pelo sistema judiciário brasileiro ao ex-presidente Jair Bolsonaro, atualmente réu em processo relacionado à tentativa de subversão do processo eleitoral. O ex-presidente americano reiterou sua posição de apoio a Bolsonaro e solicitou a retirada das acusações.
A carta também afirma que eventuais aumentos tarifários por parte do Brasil resultarão em elevação proporcional das tarifas impostas pelos EUA. Trump sugeriu ainda que empresas brasileiras poderiam evitar tarifas ao transferirem suas operações produtivas para o território americano.
Corrente de comércio
Em 2024, a corrente de comércio entre Brasil e Estados Unidos atingiu US$ 81 bilhões, com crescimento de 8,2% em relação ao ano anterior, segundo levantamento da Fundação Getúlio Vargas. Em abril de 2025, as exportações brasileiras para os EUA somaram US$ 3,57 bilhões (alta de 21,9% ante abril de 2024), enquanto as importações alcançaram US$ 3,79 bilhões (alta de 14%).
Nos primeiros quatro meses de 2025, o Brasil aumentou suas exportações aos EUA em 3,7%, enquanto as importações cresceram 14,6%, de acordo com dados preliminares do governo.
Leia a íntegra da carta enviada ao governo brasileiro:
Sua Excelência Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República Federativa do Brasil
Caro Sr. Presidente,
“Conheci e lidei com o ex-presidente Jair Bolsonaro, e o respeitei muito, assim como a maioria dos outros Líderes de Países. A forma como o Brasil tratou o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Este julgamento não deveria estar acontecendo. É uma caça às bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!
Devido em parte aos ataques insidiosos do Brasil às eleições livres e aos direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos (conforme recentemente ilustrado pela Suprema Corte brasileira, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS às plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com milhões de dólares em multas e despejo do mercado de mídia social brasileiro), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todo e qualquer Produtos brasileiros enviados para os Estados Unidos, desvinculados de todas as Tarifas Setoriais. As mercadorias transbordadas para fugir desta Tarifa de 50% estarão sujeitas a essa Tarifa mais elevada.
Além disso, tivemos anos para discutir nossa relação comercial com o Brasil e concluímos que devemos nos afastar da relação comercial de longa data e muito injusta gerada pelas políticas tarifárias e não-tarifárias e pelas barreiras comerciais do Brasil. Nosso relacionamento tem estado, infelizmente, longe de ser recíproco.
Por favor, entenda que o número de 50% é muito menor do que o necessário para termos condições de concorrência equitativas que devemos ter com o seu país. E isso é necessário para retificar as graves injustiças do atual regime.
Como você sabe, não haverá tarifa se o Brasil, ou empresas de seu país, decidirem construir ou fabricar produtos dentro dos Estados Unidos e, de fato, faremos todo o possível para obter aprovações de forma rápida, profissional e rotineira, em outras palavras, em questão de semanas.
Se por algum motivo você decidir aumentar suas tarifas, então, qualquer que seja o número que você escolher para aumentá-las, será adicionado aos 50% que cobramos. Por favor, entenda que essas tarifas são necessárias para corrigir os muitos anos de políticas tarifárias e não-tarifárias e barreiras comerciais do Brasil, causando esses déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos.
Este déficit é uma grande ameaça à nossa economia e, de fato, à nossa segurança nacional! Além disso, devido aos contínuos ataques do Brasil às atividades de comércio digital de empresas americanas, bem como outras práticas comerciais injustas, estou instruindo o representante comercial dos Estados Unidos, Jamieson Greer, a iniciar imediatamente uma investigação da Seção 301 do Brasil.
Se você deseja abrir seus mercados comerciais até então fechados para os Estados Unidos e eliminar suas políticas e barreiras comerciais tarifárias e não-tarifárias, talvez consideraremos um ajuste nesta carta.
Estas tarifas podem ser modificadas, para cima ou para baixo, dependendo da nossa relação com o seu País. Você nunca ficará desapontado com os Estados Unidos da América.
Obrigado pela sua atenção a este assunto!”