Entre os produtos que o Brasil mais exporta para os Estados Unidos, as carnes foram um dos poucos que não receberam tratamento especial nem foram incluídas em listas de exceções, e desde 6 de agosto estão pagando a tarifa de 50% imposta pelo governo norte-americano, sob a presidência de Donald Trump. Essa é a maior tarifa aplicada pelos Estados Unidos a qualquer parceiro comercial, comparável apenas à taxa imposta à Índia. Como consequência, muitos produtos brasileiros ficaram mais caros em relação aos concorrentes internacionais no mercado americano, o que tende a diminuir seu espaço.

Esse impacto foi claramente sentido nas exportações brasileiras para os EUA, que em agosto caíram 18% na comparação anual. No entanto, o setor de carnes apresenta uma dinâmica particular. Como maior fornecedor mundial de carnes e com uma demanda global crescente além dos EUA, o Brasil ainda vê suas exportações no setor avançarem. Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), explicou à VEJA que a demanda global permanece aquecida e que os concorrentes não conseguem suprir essa necessidade.

Em agosto, as exportações de carnes brasileiras para os Estados Unidos caíram 46%, totalizando 37 milhões de dólares, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Contudo, o impacto sobre a produção foi limitado: as exportações totais do setor aumentaram 56%, chegando a 1,5 bilhão de dólares, mantendo níveis históricos elevados.

Os dados preliminares de setembro seguem na mesma direção, com a média diária exportada de carne bovina até 29 de setembro chegando a 1,6 milhão de reais, um crescimento de 53% em relação ao mesmo período do ano anterior. O aumento fez com que a Abiec revisasse para cima sua projeção de crescimento das exportações para 2025, de 12% para cerca de 14%.

Segundo Perosa, esse crescimento ocorre em um contexto de escassez global de carne, impulsionada por um aumento expressivo da demanda em mercados emergentes, especialmente na Ásia, motivado pelo crescimento da renda e mudanças culturais. Países como Vietnã, Malásia, Indonésia e Filipinas surgem como importantes novos mercados consumidores. Ao mesmo tempo, a oferta global está restrita, com outros grandes produtores, como Austrália e Estados Unidos, enfrentando dificuldades para expandir sua produção — o que valoriza ainda mais a carne brasileira.

As exportações brasileiras de carne para a China, que já representam 60% das vendas do produto, cresceram 90% em agosto, de acordo com o MDIC. Outros mercados significativos também apresentaram altas expressivas: Chile (+30%), Rússia (+109%) e México (+300%).

Porém, conforme destaca Perosa, é difícil substituir o mercado americano, que oferece os melhores preços aos produtores. “Os Estados Unidos eram nosso segundo maior mercado e altamente rentável”, afirma. “Redirecionar para outros países é relativamente simples, mas o setor trabalha com margens apertadas, entre 3% e 4%. Perder o mercado com maior margem prejudica toda a cadeia de vendas.”


Fontes

ABRIL.COM.BR. Tarifação de 50% para aviões, suco e outros produtos: listas completas. Disponível em: https://veja.abril.com.br/economia/tarifaco-de-50-avioes-suco-de-laranja-e-outros-produtos-escapam-veja-a-lista-completa/. Acesso em: 1 out. 2025.

ABRIL.COM.BR. Brasil 2025: tarifação de Trump entra em vigor com país mergulhado em incerteza. Disponível em: https://veja.abril.com.br/economia/brasil-2025-tarifaco-de-trump-entra-em-vigor-com-pais-mergulhado-em-incerteza/. Acesso em: 1 out. 2025.

ABRIL.COM.BR. Em uma semana, Trump taxou 23 países e Brasil ficou com a maior tarifa; veja lista. Disponível em: https://veja.abril.com.br/economia/em-uma-semana-trump-taxou-23-paises-e-brasil-ficou-com-a-maior-tarifa-veja-lista/. Acesso em: 1 out. 2025.

ABRIL.COM.BR. Um mês após tarifa de 50%, Brasil vende 18% menos para os EUA, mas exportação total cresce. Disponível em: https://veja.abril.com.br/economia/um-mes-apos-tarifa-de-50-brasil-vende-18-menos-para-os-eua-mas-exportacao-total-cresce/. Acesso em: 1 out. 2025.

ABRIL.COM.BR. Exportações brasileiras crescem após tarifação, mas incerteza ainda preocupa. Disponível em: https://veja.abril.com.br/economia/exportacoes-brasileiras-crescem-apos-tarifaco-mas-incerteza-ainda-preocupa/. Acesso em: 1 out. 2025.