Depois de mais de 20 anos de negociações, o Mercosul e a União Européia chegaram a um amplo acordo comercial em Bruxelas na sexta-feira.

“A nova estrutura comercial – parte de um Acordo de Associação mais amplo entre as duas regiões – consolidará uma parceria política e econômica estratégica e criará oportunidades significativas para o crescimento sustentável de ambos os lados”, disse um comunicado de imprensa da União Européia.

De acordo com a declaração da UE, o acordo visa remover a maioria das tarifas sobre as exportações da UE para o Mercosul, um bloco econômico e político composto por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, além de vários membros associados. A adesão da Venezuela ao grupo foi suspensa em 2017, em uma resolução do Mercosul que citava uma “ruptura da ordem democrática” no país.

O acordo impacta uma população combinada de mais de 780 milhões de pessoas e economizaria mais de US $ 4,5 bilhões em direitos por ano, segundo o presidente da Comissão Européia, Jean-Claude Juncker, que declarou o maior acordo de comércio já concluído pela União Européia.

“Em meio às tensões do comércio internacional, estamos enviando hoje um forte sinal junto aos nossos parceiros do Mercosul de que defendemos o comércio baseado em regras”, disse ele.
Além de elevar as tarifas, o acordo também estabeleceria proteções legais para produtos especiais feitos em áreas protegidas da Europa, como prosciutto de Parma, Itália, vinhos Tokaji da Hungria e queijo Comté da França.

O presidente brasileiro Jair Bolsonaro apareceu para comemorar no Twitter com um GIF dele dando o sinal de positivo, enquanto no Facebook, o presidente argentino Mauricio Macri – que enfrenta eleições em outubro – saudou o acordo “histórico” como um que ajudaria a garantir o futuro da Argentina .

Os produtos primários corresponderam a 67% de nossa pauta de exportações para a União Europeia, em média, entre 2014 e 2017 (dados da Unctad, ainda não disponíveis para 2018). O restante é composto de manufaturados. Já estes últimos corresponderam a 86% de nossas importações, na mesma base de comparação. Assim, é muito claro que somos exportadores de primários e importadores de manufaturados para a União Europeia. Aliás, se compararmos apenas o valor das exportações de primários e importações de manufaturados para a UE desde 1995, só não há déficit nessa comparação entre 2003 e 2005, quando nossa taxa de câmbio era bastante competitiva. Esse resultado é mais que esperado, pois sabemos que exportar primários não gera valor suficiente para financiar a importação de manufaturados.

No entanto, nem todos receberam bem o acordo. Em um comunicado, a Associação dos Agricultores Irlandeses pediu à Irlanda que não ratifique o acordo, e argumentou que seus termos serão uma desvantagem para os produtores europeus de carne bovina.

O acordo sobre o comércio é parte de um “Acordo de Associação” muito maior, que espera aumentar o diálogo político e aumentar as áreas de cooperação além do comércio, incluindo migração e proteção ambiental, em um momento de crescente isolacionismo e protecionismo comercial.

As negociações para estabelecer um acordo comercial entre a Europa e o grupo sul-americano começaram nos anos 90, e diminuíram e fluíram ao longo dos anos antes de retomarem o ritmo em 2016. Ambas as partes ainda precisam finalizar o texto do acordo maior antes de serem enviadas para aprovação.

Vantagens Europeias

Uma das maiores vitórias para a Europa incluem o corte drástico de impostos sobre automóveis e peças, químicos, maquinários e tecidos e uma melhora no acesso de queijos e vinhos da UE.

Ganhos para o Brasil?

Muitos economistas tem se manifestado pelas redes sociais e publicações online de jornais e revistas. Abaixo algumas opiniões desses economistas a respeito desse acordo.

Marcio Pochmann

O economista Marcio Pochmann destacou que “o acordo União Europeia e Mercosul formaliza o neocolonialismo na região latino-americana com a liquidação do que resta do sistema de manufatura e consolidação da estrutura primário-exportadora. Adeus soberania nacional”.

Nilson Araújo de Souza

O doutor em economia pela Universidade Autônoma do México (Unam), pós-doutor pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), Nilson Araújo de Souza, critica o acordo entre os países do Mercosul com a União Europeia. Para ele, se submeter à UE é a morte da indústria nacional. “Não há razão para comemoração a não ser por parte da União Europeia, porque, para ela, o acordo é um grande feito”.

“Este é um grande acordo para a União Europeia, e, particularmente, para quem hegemoniza a União Europeia, que é a Alemanha. Não é um bom acordo para os países do Mercosul. A prevalecer essas condições, a tendência é completar-se a desindustrialização regional”, alertou o economista.

Bresser Pereira

Para o economista Luiz Carlos Bresser-Pereira, o acordo “é mais um passo no sentido de desindustrializar, o sonho dos Ocidente imperial e dos liberais dependentes brasileiros de tornar o Brasil um mero exportador de commodities, ficando cada vez mais para trás não apenas dos demais países em desenvolvimento mas também dos países ricos”.

“Esse acordo é um desastre para o Brasil; é mais um passo no sentido de desindustrializar, o sonho dos Ocidente imperial e dos liberais dependentes brasileiros de tornar o Brasil um mero exportador de commodities, cujo PIB continuará crescendo a uma taxa anual por habitante de apenas 1% ao ano, ficando, dessa maneira, cada vez mais para trás não apenas dos demais países em desenvolvimento mas também dos países ricos”, definiu o economista.

Ciro Gomes

O Ex-Ministro da Fazenda de Itamar Franco disse em artigo: “Há um setor que pode ser bastante beneficiado, e isto é bom para o Brasil: o agro-negócio. Precisamos ler a versão final do tratado que ainda não está disponível. Mas,acreditem, o recrudescimento da critica européia às gravíssimas mazelas de governo Bolsonaro em matéria de meio ambiente, no mesmo período só é coincidência para os abestados.” (via facebook)

Paulo Gala

O Economista e Professor da FGV escreve que “As Indústrias com grandes escalas de produção (custo de produção baixo) tendem a engolir ou matar as indústrias com pequena escala (custo de produção alto). Tecla SAP: a indústria brasileira só vai apanhar com China e Alemanha” (via twitter)

Nelson Marconi

” Pois bem, a não ser que nosso país opte por realmente desenhar uma estratégia de política macroeconômica e industrial que estimule a exportação de manufaturados, o acordo do Mercosul com a União Europeia poderá nos transformar em uma grande fazendona cercada por minas de ferro e alumínio e pouquíssimas indústrias, reforçando o processo de desindustrialização.  “ (via facebook)

Eduardo Moreira

Ex-sócio do Banco Pactual, Fundador do Brasil Plural, criador da Genial Investimentos e eleito um os 3 melhores economistas do Brasil pela Investidor Institucional, em um vídeo no Youtube, ele eixa sua opinião sobre o acordo: