Na última quinta-feira, (15), a Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgou um estudo que demonstrou uma situação delicada para o cenário nacional. Intitulado “A Escalada da Desigualdade”, a pesquisa comprovou que há quatro anos e três meses a taxa de desigualdade cresce no país. Só para se ter uma ideia, o segundo trimestre de 2019 figurou como o 17º consecutivo do aumento da desigualdade configurando um recorde histórico desde que se começou a tabular esses dados.

A métrica final é feita com base nas informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) e também pelo conhecido coeficiente de Gini,  responsável por medir o tamanho da desigualdade em vários países ao redor do mundo; além disso, é assinado pelo economista Marcelo Neri, que se surpreendeu com a série histórica.

“Nem mesmo em 1989, que constitui nosso pico histórico de desigualdade brasileira, houve um movimento de concentração de renda por tantos períodos consecutivos”.

De acordo com os resultados obtidos, desde o final de 2014 o Brasil vem registrando seguidamente, altas para a concentração de renda nas mãos dos que já são considerados ricos, enquanto que os mais pobres cada vez mais sofrem em decorrência dessa má distribuição.

A pesquisa pôde comprovar também que os mais pobres sofreram mais perdas, isso porque, no fim das contas:

  • Os mais pobres, sofreram perdas equivalentes a 17,1% em sua renda durante o período;
  • Os representantes da faixa intermediária perderam (40% das pessoas) sofreram perdas de 4,16% em sua renda no período; e 
  • Os mais ricos (10%), houve um incremento de 2,55% em sua renda.   

Aumento significativo da pobreza

Os números comprovaram que, de 2014 a 2017, a população vivendo na pobreza aumentou dos 8,4% para 11,2% – um aumento de 33%.

Para Marcelo Neri, este período reflete um retrocesso levando-se em consideração os índices demonstrados.

“Em suma estamos falando de uma década e meia perdida no combate à pobreza. Este exercício ilustra a importância não só de combate à desigual”

Reforma da previdência pode acelerar ainda mais a desigualdade

A atual reforma da Previdência vai aumentar a desigualdade social e de renda no Brasil ao atingir grande massa de pessoas que recebem baixos salários ou aposentadorias. Essa e outras críticas à reforma previdenciária, já aprovada pela Câmara dos Deputados, foram apresentadas nesta quinta-feira (15) por debatedores que participaram de audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH).

Segundo o economista Eduardo Fagnani – autor do livro Previdência: o debate desonesto -, a reforma vai prejudicar especialmente os trabalhadores e, consequentemente, aumentar a concentração de renda e a desigualdade social. Ele disse que o Brasil já é considerado o país mais desigual do planeta, com enorme concentração de renda. Para o economista, a reforma da Previdência é apenas mais um passo para o desmonte do Estado social pactuado na Constituição Federal de 1988.

— Estamos destruindo a seguridade social, que é o principal mecanismo de transferência de renda do Brasil, de diminuição da desigualdade. Estamos destruindo esses mecanismos de proteção social, como o BPC. Estão reformando o modelo de sociedade que foi pactuado em 1988. Mais um retrocesso no processo civilizatório brasileiro — afirmou Fagnani.

O presidente do Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), Rudinei Marques, ressaltou que a concentração de renda vem aumentando em todo o mundo nos últimos anos e que o texto atual da reforma previdenciária não atacará privilégios como alega o governo. Ao contrário, declarou, atinge de maneira dura quem recebe salários ou benefícios entre R$ 1.300,00 e R$ 1.800,00.

Rudinei afirmou ainda que a proposta vai diminuir o valor de aposentadorias e pensões, tornar mais tardias as aposentadorias, diminuir salários líquidos dos trabalhadores da ativa, principalmente dos servidores públicos. Segundo seus cálculos, o servidor público vai perder, em média, 5% de seu salário líquido devido ao aumento das contribuições previdenciárias.

O representante da Associação Brasileira dos Economistas pela Democracia (Abed), Clóvis Scherer, reiterou que a reforma da Previdência vai concentrar ainda mais a renda no país, já que atinge a renda dos trabalhadores que ganham pouco. Ele afirmou que o governo federal nunca apresentou um relatório ou estudo dos futuros impactos sociais da reforma previdenciária.

— Essa reforma recai sobre a carne dos trabalhadores — alertou o economista.

Fonte: A Escalada da Desigualdade – Qual foi o Impacto da Crise sobre Distribuição de Renda e Pobreza ?