As ações das principais empresas de tecnologia dos Estados Unidos despencaram nesta segunda-feira (27), após a surpreendente ascensão da DeepSeek, uma startup chinesa de inteligência artificial (IA). A empresa, fundada há apenas um ano, revelou um modelo de IA revolucionário chamado DeepSeek-R1, que apresenta capacidades similares às de modelos como o ChatGPT, mas com um custo operacional significativamente inferior.

Tecnologia de Baixo Custo Abala o Mercado

O DeepSeek-R1 foi desenvolvido com um orçamento estimado de apenas US$ 5,6 milhões em poder computacional, em comparação aos bilhões de dólares gastos por gigantes como OpenAI, Google e Meta. Essa eficiência chocou o mercado e levantou questionamentos sobre a viabilidade dos investimentos massivos realizados pelas empresas americanas no setor de IA.

Situação da NASDAQ as 20h29 GMT-3.

O impacto foi imediato: o índice Nasdaq, focado em tecnologia, caiu 3,1%, enquanto o S&P 500 recuou 1,5%. Já o Dow Jones, impulsionado por setores como saúde e consumo, subiu 0,7%. As perdas no início do pregão foram ainda mais acentuadas.

A Nvidia, líder global na fabricação de chips para IA, viu suas ações despencarem 16,9%, perdendo US$ 588,8 bilhões em valor de mercado – a maior perda de valor já registrada por uma empresa em um único dia. Outras gigantes da tecnologia, como Microsoft (-2,1%) e Alphabet (-4%), também sofreram quedas significativas.

DeepSeek: Uma Ameaça à Supremacia Americana em IA?

A DeepSeek utiliza uma abordagem inovadora, combinando chips de última geração com modelos de código aberto, o que reduz drasticamente os custos de desenvolvimento. Esse avanço é especialmente notável dado o contexto de restrições dos EUA à exportação de chips de alto desempenho para a China, com justificativas de segurança nacional.

Marc Andreessen, investidor de tecnologia e conselheiro do presidente Donald Trump, comparou o lançamento do DeepSeek-R1 ao “momento Sputnik” da IA – uma referência ao choque tecnológico causado pelo satélite soviético em 1957. Segundo ele, o modelo da DeepSeek “redefiniu as expectativas” no setor.

Apesar de seu sucesso inicial, o modelo enfrenta ceticismo quanto à sua capacidade de competir em aplicações mais complexas, que ainda exigem infraestruturas computacionais robustas. Analistas também alertam que a dependência da China de chips menos avançados pode limitar seu crescimento no longo prazo.

Reação dos Investidores

O avanço da DeepSeek provocou uma reavaliação das perspectivas de lucro das empresas americanas de tecnologia. Segundo Keith Lerner, analista da Truist, “o lançamento do modelo da DeepSeek levou investidores a questionarem a liderança dos EUA em IA e se os altos investimentos no setor resultarão em lucros ou excessos”.

Empresas de energia, que se beneficiaram do aumento da demanda por eletricidade para alimentar data centers de IA, também sofreram. A Constellation Energy caiu 21%, enquanto a Vistra perdeu 28%. Futuros de gás natural recuaram 5,9%, e o petróleo caiu mais de 2%. Até o mercado de criptomoedas sentiu o impacto, com quedas generalizadas.

Desafios e Futuro da DeepSeek

Embora o DeepSeek-R1 tenha impressionado o mercado, a startup ainda enfrenta desafios. Nesta segunda-feira, a empresa anunciou a limitação temporária de novas inscrições devido a “ataques maliciosos em larga escala” aos seus sistemas. Liang Wenfeng, fundador da DeepSeek, revelou em entrevista que a empresa acumulou estoques de chips Nvidia A100 antes das sanções dos EUA, complementando-os com chips mais baratos para reduzir custos.

No entanto, especialistas acreditam que a liderança americana em IA ainda é sólida. “O tempo dirá se a ameaça da DeepSeek é real”, afirmou Michael Block, estrategista do Third Seven Capital. “Os mercados podem ter reagido de forma exagerada, mas isso destaca a importância de os players ocidentais se adaptarem rapidamente.”

Por ora, o sucesso da DeepSeek reacendeu o interesse em empresas chinesas de tecnologia, tradicionalmente negociadas com desconto devido a preocupações geopolíticas. “A ascensão da DeepSeek pode impulsionar o interesse em empresas chinesas de IA subvalorizadas, oferecendo uma narrativa alternativa de crescimento”, concluiu Charu Chanana, estrategista-chefe do Saxo.