Os resultados da principal avaliação internacional de educação, que mede o conhecimento de estudantes de 15 a 16 anos de 79 países, indicam que o desempenho dos brasileiros melhorou em relação a 2015, mas ainda é baixo na comparação internacional e está praticamente estagnado desde 2009.

O relatório do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, (Pisa, na sigla em inglês), divulgado nesta terça-feira (3), aponta que as notas dos brasileiros em leitura, matemática e ciência no teste aplicado em 2018 foram melhores do que as de 2015, mas ainda estão longe do desempenho médio de estudantes dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Na prova de leitura, os brasileiros tiveram, em média, 413 pontos. O resultado coloca o Brasil em 57º lugar dentre 78 economias avaliadas, à frente da Colômbia (412), da Argentina (402) e do Peru (401), mas muito atrás dos 487 pontos de média da OCDE.

Em ciência, a média brasileira foi de 404 pontos, deixando o Brasil em 66° lugar no ranking da disciplina. Em matemática, a média dos alunos brasileiros foi de 384 pontos, enquanto a média dos países desenvolvidos é de 489 pontos. Essa foi pior nota brasileira, que coloca o Brasil em 70° lugar no ranking de matemática, dentre 78 países, atrás dos vizinhos Chile (417), Peru (400) e Colômbia (391).

A primeira posição do ranking das três disciplinas ficou com as províncias chinesas de Pequim, Xangai, Jiangsu e Guangdong, ultrapassando Singapura. Os estudantes das províncias chinesas alcançaram, em média, 555 pontos em leitura, 591 em matemática e 590 em ciência.

O resultado brasileiro nas três disciplinas em 2018 foi melhor do que o de três anos atrás, quando o país apresentou pela primeira vez queda nas médias de leitura, ciência e matemática. No entanto, as notas dessa avaliação estão no mesmo patamar das obtidas pelos estudantes brasileiros em 2009, indicando estagnação no desempenho dos alunos na última década.

43% abaixo do mínimo para a cidadania

O diagnóstico destaca ainda que, entre os brasileiros, 43% dos estudantes estão abaixo do desempenho mínimo esperado em leitura, matemática e ciência. Isso quer dizer que eles não alcançaram pontuação para chegar ao nível 2, de uma escala de 6. A OCDE considera nível 2 o mínimo para que esses jovens possam exercer plenamente sua cidadania.

Além disso, apenas 2,5% dos estudantes alcançaram alto desempenho (níveis 5 e 6, em uma escala de seis) em ao menos uma das três disciplinas.

Segundo a avaliação, nos últimos anos, o Brasil não conseguiu aumentar o percentual de alunos de alto desempenho ou reduzir os estudantes de baixíssimo desempenho em matemática nem em leitura. Apenas em ciência, houve redução no percentual de alunos com nota abaixo do mínimo.

Apesar da avaliação geral não ser animadora, o relatório sublinha que o Brasil melhorou ou manteve seu desempenho desde que passou a participar do Pisa, em 2000, em um período que coincide com um momento de expansão nas matrículas em escolas de jovens de 15 anos no país. E, no relatório internacional, o país é citado como exemplo, ao lado de México, Turquia e Uruguai, de que a “qualidade da educação não precisa ser sacrificada para aumentar o acesso escolar”.

Diferenças regionais

A avaliação internacional traz também dados que indicam a desigualdade regional da educação brasileira. Nas três disciplinas, estudantes das regiões Sul e Centro-Oeste tiveram desempenho superior ao dos jovens das regiões Norte e Nordeste. A diferença chega a 43 pontos.

Em leitura, o desempenho dos estudantes da região Sul foi equivalente à dos alunos dos Emirados Árabes Unidos, país que ficou na 46ª posição entre 78 países avaliados na disciplina leitura. Em média, os alunos do Sul atingiram 432 pontos, e os do Centro-Oeste, 425 pontos em leitura.

No Sudeste, a média foi de 424 pontos, enquanto os estudantes da região Norte tiveram, em média, 392 pontos em leitura, e os do Nordeste 389 pontos.

A diferença regional também apareceu nas provas de matemática e de ciências.

Leitura

Média OCDE – 487 pontos

Sul (Brasil) – 432 pontos

Centro-Oeste (Brasil) – 425 pontos

Sudeste (Brasil) – 424 pontos

Média Brasil – 413 pontos

Norte (Brasil) – 392 pontos

Nordeste (Brasil) – 389 pontos

Matemática

Média OCDE – 489 pontos

Sul (Brasil) – 401 pontos

Centro-Oeste (Brasil) – 396 pontos

Sudeste (Brasil) – 392 pontos

Média Brasil – 384 pontos

Norte (Brasil) – 366 pontos

Nordeste (Brasil) – 363 pontos

Ciência

Média OCDE – 489 pontos

Sul (Brasil) – 419 pontos

Centro-Oeste (Brasil) – 415 pontos

Sudeste (Brasil) – 414 pontos

Média Brasil – 404 pontos

Norte (Brasil) – 384 pontos

Nordeste (Brasil) – 383 pontos

Desigualdade e atraso escolar

Como avaliações nacionais já apontavam, o Pisa indica que a desigualdade socioeconômica do país tem reflexos no desempenho escolar. Em leitura, a diferença média de notas entre os 25% estudantes brasileiros mais ricos e os 25% mais pobres foi de 97 pontos –a média geral brasileira é de 413.

Além disso, o relatório indica que 17% dos estudantes matriculados em escolas pobres estavam em uma unidade em que o diretor dizia ter dificuldades para garantir a qualidade do ensino por falta de professores. Entre os alunos de escolas de maior nível socioeconômico, apenas 8% frequentavam unidades com essa dificuldade.

O atraso escolar é outro problema importante que tem impacto na avaliação internacional. O teste é aplicado para alunos entre 15 e 16 anos de todo o mundo. No Brasil, em que há quantidade importante de estudantes com atraso escolar, o teste foi realizado por estudantes matriculados do 7° ano do ensino fundamental ao 3° ano do Ensino Médio. Em países em que o atraso escolar não é tão relevante, como o Reino Unido, quase todos os alunos que fizeram a prova estavam no segundo ou terceiro ano do equivalente ao Ensino Médio.

Desempenho médio em leitura, por decil internacional de status socioeconômico

Pontos principais da avaliação no Brasil

  • No PISA 2018, os estudantes no Brasil obtiveram pontuação inferior à média da OCDE em leitura, matemática e Ciência. Apenas 2% dos alunos tiveram os níveis mais altos de proficiência (Nível 5 ou 6) em pelo menos uma disciplina (média da OCDE: 16%) e 43% dos alunos obtiveram pontuação abaixo do nível mínimo de proficiência (Nível 2) nos três sujeitos (média da OCDE: 13%).
  • No Brasil, o desempenho médio da matemática melhorou entre 2003 e 2018, mas a maioria dos houve melhora nos primeiros ciclos do PISA. Depois de 2009, em matemática, como em leitura e ciência, o desempenho médio não mudou significativamente.
  • O status socioeconômico foi um forte preditor de desempenho em leitura, matemática e ciências no Brasil. Os alunos favorecidos superaram os alunos desfavorecidos na leitura em 97 pontos (Média da OCDE: 89 pontos). No PISA 2009, a diferença de desempenho na leitura relacionada ao status socioeconômico era de 84 pontos no Brasil (média da OCDE: 87 pontos).
  • Cerca de 10% dos estudantes desfavorecidos no Brasil conseguiram pontuar no primeiro trimestre de leitura desempenho (média da OCDE: 11%), indicando que a desvantagem não é o destino.
  • No Brasil, os alunos de baixo desempenho são agrupados em certas escolas com menos frequência do que a média da OCDE, e alunos de alto desempenho mais frequentemente agrupados em determinadas escolas. Um aluno desfavorecido tem um 18% de chance, em média, de estar matriculado em uma escola com quem obtém pontuação no primeiro trimestre de desempenho de leitura (média da OCDE: 17% de chance).
  • Cerca de 17% dos estudantes brasileiros matriculados em uma escola desfavorecida (média da OCDE: 34%) e 8% dos alunos matriculados em uma escola privilegiada (média da OCDE: 18%) freqüentam uma escola cuja o diretor informou que a capacidade da escola de fornecer instrução é prejudicada pelo menos a alguns medida pela falta de professores.
  • No Brasil, cerca de 1 em cada 10 estudantes desfavorecidos de alto desempenho – mas 1 em cada 25 estudantes de alto desempenho alunos – não espera concluir o ensino superior.
  • As meninas superaram os meninos na leitura em 26 pontos (média da OCDE: 30 pontos). Por contraste, os meninos superaram as meninas em matemática em 9 pontos (média da OCDE: 5 pontos). Em ciência, meninas e meninos tiveram desempenho semelhante no Brasil (média da OCDE: meninas superaram ligeiramente os meninos em dois marcar pontos).
  • Entre os alunos de alto desempenho em matemática ou ciências, cerca de um em cada três meninos no Brasil espera trabalhar como engenheiro ou profissional de ciências aos 30 anos, enquanto apenas uma em cada cinco meninas espera fazê-lo. Cerca de duas em cada cinco meninas de alto desempenho esperam trabalhar em profissões relacionadas à saúde, enquanto apenas um em cada quatro meninos de alto desempenho espera isso. Apenas 4% dos meninos e quase nenhuma menina no Brasil esperam trabalhar em profissões relacionadas às TIC.
  • No Brasil, 29% dos estudantes relataram sofrer bullying pelo menos algumas vezes por mês (média da OCDE: 23%). No entanto, 85% dos estudantes no Brasil concordaram ou concordaram fortemente que é bom ajudar os estudantes que não podem se defender (média da OCDE: 88%).
  • Cerca de 41% dos estudantes no Brasil relataram que, em todas ou na maioria das aulas de idioma, o professor precisa esperar muito tempo para que os alunos se acalmem (média da OCDE: 26%). No Brasil, estudantes que relataram que, em todas ou quase todas as lições, o professor precisa esperar muito tempo para que os alunos se acalmem e tenham 19 pontos a menos na leitura do que aqueles que relataram que isso nunca acontece ou acontece apenas em algumas lições, depois de considerar o status socioeconômico.
  • No Brasil, 50% dos alunos haviam pulado um dia de escola (média da OCDE: 21%) e 44% dos estudantes chegaram tarde para a escola (média da OCDE: 48%) nas duas semanas anteriores ao teste do PISA.
  • Cerca de 48% dos estudantes no Brasil relataram que seus colegas de escola cooperam entre si (média da OCDE: 62%) e 57% relataram que eles competem entre si (média da OCDE: 50%).
  • Cerca de 23% dos estudantes no Brasil concordaram ou concordaram fortemente que se sentem sozinhos na escola (média da OCDE: 16%).
  • No Brasil, 77% dos estudantes concordaram ou concordaram fortemente que geralmente conseguem encontrar uma saída para situações difíceis (média da OCDE: 84%).
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O que é o Pisa

A prova, realizada a cada três anos, avalia os conhecimentos de adolescentes de 15 e 16 anos em leitura, matemática e ciência em dezenas de países.

No Brasil, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), ligado ao Ministério da Educação, é o responsável pela aplicação da prova. Em 2018, o Pisa avaliou o conhecimento de 10.691 estudantes brasileiros em 638 escolas no país, escolhidas para que sejam representativas de toda a população escolar.

Com informações da OCDE/Pisa