O Banco Central da Rússia mais que dobrou sua taxa básica de juros nesta segunda-feira e introduziu alguns controles de capital, já que o país enfrenta um isolamento econômico cada vez maior, mas seu governador disse que as sanções o impediram de vender moeda estrangeira para sustentar o rublo.

A admissão de que as restrições efetivamente amarraram as mãos do Banco da Rússia ressalta a ferocidade da reação à invasão da Ucrânia por Moscou e ao sucesso dos aliados ocidentais em restringir sua capacidade de implantar cerca de US$ 640 bilhões em divisas e reservas de ouro.

“O banco central aumentou hoje sua taxa básica para 20%, pois novas sanções provocaram um desvio significativo da taxa do rublo e limitaram as opções do banco central de usar suas reservas de ouro e câmbio”, disse a governadora Elvira Nabiullina em entrevista coletiva.

“Tivemos que aumentar as taxas para compensar os cidadãos pelo aumento dos riscos inflacionários.”

As sanções ocidentais já haviam feito o rublo cair quase 30% para mínimos recordes. Ele recuperou algum terreno depois que o banco central aumentou sua principal taxa de juros para 20%, o nível mais alto deste século, de 9,5%.

Venda das reservas antes do início da invasão à Ucrânia

O Banco da Rússia vendeu cerca de US$ 1 bilhão de suas reservas na quinta-feira, 24 de fevereiro, dia em que a Rússia iniciou o que chama de “operação especial” na Ucrânia, e também realizou vendas de câmbio na sexta-feira, disse Nabiullina.

“Devido à restrição ao uso de reservas de ouro-forex em dólares e euros, as intervenções não foram realizadas por nós hoje”, disse Nabiullina.

Nabiullina também disse que a Rússia tem um substituto interno para o sistema de pagamentos internacionais SWIFT, acrescentando que contrapartes estrangeiras podem se juntar a ele.

Rublo despenca

A moeda da Rússia caiu para um recorde de baixa em relação ao dólar dos Estados Unidos nesta segunda-feira (28), com o sistema financeiro do país cambaleando por sanções esmagadoras impostas pelos países ocidentais em resposta à invasão à Ucrânia.

O rublo perdeu mais de 30% de seu valor para ser negociado a 109 por dólar às 4h30 (horário de Brasília), após uma queda anterior de até 40%. O início das negociações no mercado de ações russo foi adiado.

Meta de inflação

O banco central, que diz ter como meta a inflação em 4% e fará todo o necessário para garantir a estabilidade financeira, disse que o aumento da taxa trará as taxas de depósito a níveis “necessários para compensar o aumento dos riscos de depreciação e inflação”.

“Isso é necessário para apoiar a estabilidade financeira e de preços e proteger as economias dos cidadãos da depreciação”, afirmou.

O aumento da taxa para níveis acima dos 17% observados em 2014, quando a Rússia anexou a Crimeia da Ucrânia, ocorre depois que países ocidentais se moveram para bloquear o acesso de certos bancos russos ao sistema internacional de pagamentos SWIFT para punir Moscou por sua invasão da Ucrânia.

A Rússia chama suas ações na Ucrânia de “operação especial” que, segundo ela, não foi projetada para ocupar território, mas para destruir as capacidades militares de seu vizinho do sul e capturar o que considera nacionalistas perigosos.

“As condições externas para a economia russa mudaram drasticamente”, disse o banco central em comunicado.

As medidas recentes se somam a uma série de medidas anunciadas desde quinta-feira para apoiar os mercados domésticos, enquanto o Estado luta para gerenciar as consequências cada vez maiores das sanções ocidentais.

As autoridades russas também ordenaram aos corretores que suspendam as vendas a descoberto no mercado russo e parem de executar ordens de pessoas jurídicas e indivíduos estrangeiros para vender títulos russos.

“Essas medidas podem ajudar a acalmar o crescente nervosismo do mercado, mas ao mesmo tempo minam os fundamentos da política monetária, focada em metas inflacionárias e taxa de câmbio flexível”, disse o BCS Global Markets em nota.

“O ambiente externo desfavorável tornou a política monetária da Rússia insustentável e não descartamos um possível aumento da taxa daqui para frente ou outras decisões inesperadas e não relacionadas ao mercado.”