O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou neste domingo (27) um acordo comercial com a União Europeia (UE) que estabelece uma tarifa de 15% sobre importações, encerrando meses de incertezas sobre as relações comerciais entre os dois maiores parceiros econômicos do Ocidente.
A tarifa de 15% representa uma redução expressiva em relação às ameaças anteriores de Trump, que em julho chegou a anunciar a possibilidade de impor tarifas de até 30% sobre os produtos europeus. Em abril, o presidente já havia mencionado um patamar de 20%.
O novo acordo prevê que a União Europeia não adotará tarifas sobre importações vindas dos Estados Unidos, o que, segundo Trump, torna o arranjo “satisfatório para ambos os lados”.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, esteve ao lado de Trump no anúncio e declarou que o pacto “trará estabilidade e previsibilidade — elementos essenciais para as empresas de ambos os lados do Atlântico”.
Contudo, tarifas de 50% sobre o aço europeu continuarão em vigor. Além disso, o governo norte-americano não descartou novas tarifas, especialmente sobre produtos farmacêuticos — setor em que a Irlanda é um dos principais exportadores. Trump chegou a ameaçar tarifas de até 200% sobre medicamentos, ainda sem data definida para aplicação.
O secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, afirmou que o governo também avalia impor tarifas sobre semicondutores nas próximas semanas.
Entre os principais pontos do acordo, Trump destacou que a UE se comprometeu a comprar US$ 750 bilhões em energia dos Estados Unidos, além de prometer investimentos de US$ 600 bilhões na economia americana. Ainda não foi detalhado como esses recursos serão aplicados nem o cronograma de execução. Trump também mencionou futuras compras de equipamentos militares por países europeus, embora valores concretos ainda não tenham sido definidos.
O presidente americano afirmou que o acordo representa a “abertura de todos os países europeus”, que, segundo ele, “estavam essencialmente fechados”. Na prática, a UE já importa centenas de bilhões de dólares em produtos americanos anualmente — somente em 2024, esse valor chegou a US$ 400 bilhões.
O novo entendimento é semelhante ao pacto firmado com o Japão, que também fixou a tarifa de 15%, abaixo do patamar inicialmente cogitado pela Casa Branca.
Segundo Ursula von der Leyen, a tarifa de 15% será única e não se acumulará a outras taxas vigentes. As duas partes também acordaram em aplicar tarifa zero a diversas categorias de produtos, como aeronaves e peças, alguns produtos químicos, fármacos genéricos, equipamentos para semicondutores e determinados produtos agrícolas.
Ela ainda anunciou que a União Europeia pretende substituir o gás e o petróleo russos por compras de energia dos EUA, incluindo gás natural liquefeito (GNL), petróleo e combustível nuclear. A expectativa é que essas compras somem US$ 250 bilhões por ano ao longo de três anos.
“A tarifa de 15% é desafiadora, mas foi o melhor resultado possível nas circunstâncias atuais. Apesar de elevada, ela garante o acesso ao mercado norte-americano, que é essencial para a competitividade europeia”, afirmou von der Leyen, classificando o encontro com Trump como “muito difícil”, mas com um desfecho “positivo e satisfatório”.
Cabe lembrar que, em 2024, a tarifa média dos EUA sobre produtos europeus era de apenas 1,2%, segundo a consultoria Capital Economics.
O primeiro-ministro da Irlanda reagiu afirmando que o acordo é bem-vindo, mas que implicará tarifas mais altas do que as atuais, o que poderá tornar o comércio bilateral mais caro e desafiador. Já o chanceler alemão comemorou o pacto como uma medida que evitou um conflito comercial com potencial de “atingir duramente a economia exportadora da Alemanha”, destacando a importância da redução das tarifas sobre o setor automotivo — de 27,5% para 15%.
Nos bastidores, a Comissão Europeia vinha negociando intensamente com o secretário Howard Lutnick e com o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer. O clima de tensão aumentou após Trump anunciar, em julho, que aplicaria unilateralmente tarifas de 30%, levando a UE a preparar uma lista de retaliação que incluía produtos sensíveis como aeronaves da Boeing, automóveis americanos e até bens emblemáticos como bourbon do Kentucky e soja da Louisiana. Estimava-se que as medidas de retaliação europeias poderiam atingir US$ 100 bilhões.
Associações de setores agrícolas e empresariais alertaram para os impactos das tarifas de 30% sobre o comércio de vinhos, queijos e massas, classificando a proposta de “incompreensível”. A indústria automotiva europeia também alertou que os custos para as empresas já ultrapassavam bilhões de dólares e que o impacto seria crescente caso as tarifas fossem mantidas.
A União Europeia é o maior parceiro comercial dos EUA, com exportações para o mercado americano que somaram US$ 605 bilhões em 2024 — superando China, México e Canadá. Os principais produtos exportados incluem medicamentos e produtos farmacêuticos, especialmente da Irlanda, além de automóveis, aeronaves e maquinário pesado da França e da Alemanha.
O desfecho representa, portanto, um alívio temporário para as cadeias de suprimento globais, ainda que com desafios consideráveis à frente para setores sensíveis dos dois lados do Atlântico.